O grito

Ouve a minha voz quando clamo, ó SENHOR; tem misericórdia de mim e responde-me (Sl 27.7).

Leitura Bíblica: Salmo 27.7-9. 

Eu nunca tinha ouvido o som de um instrumento judaico tradicional chamado shofar, feito de chifre de carneiro, mas, ao zapear por uma rede social, vi um filmete em que um rabi judeu soprava um deles. Era algo estridente, extremamente desagradável. O rabi explicou então que o propósito dele é parecer-se com um grito humano. Ouvi de novo: parece mesmo um grito de desespero! O rabi contou então que seu avô, sobrevivente do Holocausto, às vezes gritava horrivelmente de noite, talvez porque a dor do que vira e vivera, guardada no coração, fosse demasiada para expressar em palavras. Afinal, nosso vocabulário pode ser insuficiente para externar certas coisas. 

Quando a gente posa para fotos, procura mostrar o ângulo em que se acha mais apresentável. Não sei você, mas às vezes acho que faço algo parecido quando vou orar; não raro me apanho tentando parecer limpinho e cheirosinho perante Deus, como se ele não enxergasse absolutamente tudo a respeito de quem eu sou – inclusive as mazelas que habitam nos cantinhos mais escondidos do meu coração. 

Precisamos nos conscientizar de que estamos perante ele o tempo todo. Também é bom lembrar que falamos com aquele para quem não há segredos; não é necessário explicar muito. A gente pode tentar encontrar as melhores palavras e argumentos, mas há ocasiões na vida em que a única opção para uma oração verdadeira é simplesmente se lançar na presença do Senhor e ficar ali, a chorar ou gemer, pois nada que digamos será suficiente. O salmista diz no v. 8 que há momentos em que o coração nos incentiva a buscar a face do Senhor. Feliz aquele cujo coração chama, pois nossa tendência humana é ficar sentados numa poça de lágrimas, revoltados a lamuriar. Assim, se a dor do seu coração empurrar você para a presença do Pai, não se preocupe em explicar muita coisa – apenas confie e renda-se. Ele ouve o grito do seu coração. 

Pai de amor, que bom saber que o Senhor está sempre pronto a ouvir o nosso grito! 

Miguel Herrera Júnior, Bragança Paulista/SP. Extraído do site https://presentediario.transmundial.org.br 

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